ORLANDO FONTES LIMA JÚNIOR
Professor Titular da UNICAMP

Coordenador do LALT (Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes)

Provavelmente você já pegou um Uber ou talvez tenha usado uma hospedagem Airbnb. Estes são serviços compartilhados, uma tendência mundial.

Na área da logística, o que vem acontecendo? Será que existem serviços semelhantes?

Sim, existem diversos serviços semelhantes ao Uber e Airbnb para logística pelo mundo. Por exemplo o Uber Cargo e o CargoMatic para compartilhamento de frota e o Flexe para compartilhamento de espaços de armazenagem, nos moldes do Airbnb.

Esta é uma tendência dentro da chamada economia compartilhada. Mas por que estes serviços são tão competitivos?

Para entendermos como é possível oferecer serviços melhores com custos menores pelo compartilhamento é importante entendermos o conceito de custo marginal.

As companhias aéreas oferecem, em algumas situações, tarifas muito abaixo de seus custos totais. São as chamadas tarifas Last Minute. O avião vai decolar daqui uma hora e existem assentos vazios. Se eu oferecer uma tarifa que cubra os custos variáveis de levar este passageiro e um pouquinho dos custos fixos da operação pode ser mais interessante do que voar com aquele assento vazio. E assim o fazem. Hotéis também têm tarifas de balcão semelhantes para altas horas da noite.

Dentro da teoria econômica marginalista, o custo de atender mais um, no limite, iguala-se ao custo variável unitário da operação, na maior parte das situações. Este custo marginal pode ser calculado pela derivada da função custo total em relação a quantidade transportada.

A empresa aérea e o hotel não podem praticar estas tarifas em todas suas vendas pois no final do mês não conseguiriam cobrir a totalidade dos seus custos fixos. No caso dos serviços compartilhados a situação é diferente. Normalmente os prestadores dos serviços absorvem estas diferenças por motivos diversos.

No caso do Airbnb os proprietários usam a residência como moradia e oferecem acomodações em quartos que estão vazios ou em períodos que estão viajando. No caso do Uber os motoristas utilizam seu veículo pessoal para prestar o serviço.

No limite a conta não fecha pois alguém está arcando com uma parte dos custos fixos, mas como operamos com alta ociosidade a tendência é estes serviços crescerem bastante no curto prazo. Esta tendência só vai reverter quando tivermos saturação dos serviços.

A Flexe tem como objetivo a criação de um mercado peer to peer entre interessados em espaços de armazenagem e empresas com capacidades ociosas. Atua em partes dos Estados Unidos e está crescendo significativamente. Desconheço empresas que oferecem o compartilhamento de áreas de armazenagem por aplicativo aqui no Brasil.

O Uber Cargo já está se disseminando no mundo com experiências bem-sucedidas na Ásia e na Europa. Outro exemplo interessante é Roadie Waffle House que oferece um brinde para clientes que depois de fazerem a refeição se dispuserem a fazer entregas no roteiro de volta para casa. No Brasil, na área de transporte rodoviário urbano e interurbano temos algumas iniciativas: Truck pad, Sontra cargo, Cargo x, Quero-frete, todas com um potencial grande de expansão do negócio.

Em uma outra linha semelhante é o compartilhamento apenas do veículo sem motorista, como é o caso da ZipCar Van. Ela oferece, em algumas capitais e cidades importantes do mundo, a possibilidade de uso de veículos de carga de forma compartilhada. Algumas cidades começam a incentivar este tipo de serviço em áreas com restrição de circulação ou de baixa emissão.

Achou a ideia interessante da logística compartilhada? Experiente então contratando uma operação piloto e avalie.

E agora quatro questões para você refletir.

A primeira é que o Uber já está disponível em mais de 55 países em todos os continentes. Agora está começando a entrar nos negócios de entrega de alimentos (Uber eats) em São Paulo e de pequenas entregas comerciais, ainda só no exterior

A segunda é que custa cerca de US$ 100 para enviar um envelope do Canadá para Venezuela, levando de três a cinco dias. Se você entrar no Facebook existem grupos de pessoas dispostas a fazer este transporte outros por um terço do preço e em muito menos tempo pois estão indo ou voltando de férias.

A terceira é que tem uma startup, Roadie, cujo modelo de negócios é oferecer uma plataforma para as pessoas rentabilizarem a ociosidade de dos porta-malas de seus carros fazendo pequenas entregas no seu roteiro diário.

A quarta é que a DHL está experimentando em Stuttgart utilizar os porta-malas dos Smarts para pequenas entregas em parceria com seus proprietários.

Para conhecer as experiências citadas no texto e algumas outras,  visite os sites:

https://www.truckpad.com.br/

https://www.querofrete.com.br/

https://www.sontracargo.com.br/

https://www.cargox.com.br/

https://www.cargomatic.com/

https://www.airbnb.com.br/

https://www.roadie.com/

https://www.flexe.com/

https://www.zipcar.com/en-gb/van

https://www.gogovan.sg/

https://www.goshare.co/uber-for-moving/

Caso deseje se aprofundar na Teoria Econômica marginalista, teoria que ajuda entender como este fenômeno de compartilhamento reduz custos e ao mesmo tempo melhora os serviços sugiro a leitura do livro do Robert Pindick e Daniel Rubinfeld , Micro economia, São Paulo, Pearson, 2006.

Para aprofundar os conceitos e conhecer as experiências e empresas citadas no texto visite o site do LALT.