ORLANDO FONTES LIMA JÚNIOR
Professor Titular da UNICAMP

Coordenador do LALT (Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes)

Você deve ter lido que a Uber e a Otto fizeram uma experiência de entrega de 45 mil latas de cerveja de Fort Collins até Colorado Springs, rodando 200 quilômetros em um caminhão autônomo. Embora com muita força de marketing este fato tem pouco de real aplicação. Rodar uma vez no deserto e de forma totalmente controlada é uma coisa mas operar rotineiramente e no ambiente reais das estradas congestionadas é bem mais difícil. Existem também exemplos em minas e áreas de colheitas que são também ambientes controlados. Antes da tecnologia do caminhão autônomo emplacar o que deverá surgir nas estradas serão os comboios de caminhões semiautônomos.

O Truck Platooning, como são conhecidos os comboios de caminhões semiautônomos, consiste em um conjunto de caminhões equipados com sistemas de suporte de direção de última geração que permitem a um deles seguir o outro bem de perto e de forma autônoma formando um pelotão de veículos integrados por tecnologia inteligente e comunicação mútua. Em algumas experiências se considera também a possibilidade de automóveis integrar o comboio.

É uma das maneiras mais simples de aproveitar a tecnologia de auto condução. Enquanto o caminhão na frente de um comboio permanece sob controle humano, os demais veículos o seguem de forma autônoma. As conexões sem fio mantêm todos os caminhões integrados e podem responder imediatamente às mudanças na direção e na velocidade do caminhão principal.

Esta tecnologia reduz bastante o tempo de reação e de frenagem. Por este motivo as distancias entre veículos podem ser reduzidas se comparado a veículos na mesma velocidade operando de forma independente. Este fato aumenta a capacidade da via em termos de trafego. A curta distância entre os veículos significa menos espaço ocupado na estrada. Por outro lado, os comboios podem gerar, pelo seu comprimento, interferências negativas também em termos de ultrapassagens e em curvas. Outro aspecto positivo é a potencial economia de custos, já que os caminhões transitam em velocidade constante, levando a menor consumo de combustível e menos emissões de CO2.

O Japão já está testando os comboios de caminhões semiautônomos em estradas públicas e a Bélgica também. O Canadá e Singapura estão criando regulamentações para experiências piloto serem realizadas. Cabe discutir os impactos desta nova tecnologia que vai muito além do transporte. A condução automatizada e a mobilidade inteligente afetarão o mercado de trabalho, a logística e a indústria automotiva.

Temos que levar em conta aspectos como a eficiência do combustível, a segurança, a aceitação pelos motoristas e o público, a adequação da infraestrutura e a viabilidade comercial. Para o Brasil esta tecnologia deverá começar a ser utilizada de forma plena daqui uns cinco anos pelo menos embora alguns elementos que pertencem a esta solução já começam a integrar os veículos nacionais como computador de bordo mais sofisticados, piloto automático integrado a comunicação dentre outros.

Nesta tecnologia embora um pouco distante da realidade brasileira é uma tendência irreversível da indústria automotiva mundial. Vamos aguardar.