ORLANDO FONTES LIMA JÚNIOR
Professor Titular da UNICAMP

Coordenador do LALT (Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes)

Imagine um contêiner que gerencia seu próprio processo logístico. Verifica se está na rota certa, se a temperatura e a pressão estão adequadas para os produtos que transporta e se sua porta foi aberta no horário previsto. E mais, caso as condições não estejam adequadas dispara ações para corrigi-las. Já existem algumas operações na Europa com esta tecnologia tanto em contêineres quanto em baús rodoviários. Esta solução tecnológica baseia-se em sensores que conectados a internet permitem além do monitoramento das variáveis logísticas ações efetivas de correção das mesmas.

Exceto pelo custo que ainda é proibitivo para disseminação do uso, esta tecnologia já está disponível tanto para grandes unidades contentoras ( por exemplo na operação de contêineres aéreos,) como para embalagens bem menores (por exemplo, frascos de remédios)

A solução tecnológica utiliza a Internet das coisas. Este termo foi usado pela primeira vez em 1999 por Kevin Ashton para referir-se a objetos unicamente identificáveis ​​(coisas) e suas representações virtuais na Internet ou em estruturas similares. De lá até hoje os usos expandiram-se inicialmente nos eletrodomésticos e nas fabricas ampliando o conceito M2M (maquina a máquina) para maquina a internet. Para implanta-lo é necessário o uso de sensores, transmissores, redes de comunicação e internet e o mais importante uma inteligência que trate o grande volume de dados gerados e utilize as informações com base em conhecimentos disponíveis e tome ações efetivas em tempo real.

O grande desafio que esta nova tecnologia vem trazendo ao setor de logística é muito grande pois altera paradigmas centenários. A principal alteração é trazer processos heterárquicos para a gestão logística alternado radicalmente a forma de executa-la.

Estamos acostumados a pensar e a agir em processos hierárquicos, ou seja, o poder é centralizado e os comandos e ações são gerados por um ou poucos pontos. Os processos que surgem com a internet das coisas são heterárquicos, onde a autonomia de cada agente cria um sistema de poder distribuído e emergente. São estes processos emergentes que afetam diretamente os paradigmas da logística. Se observarmos o funcionamento de um formigueiro vamos perceber que não existem nenhuma formiga comandando o processo, cada formiga segue um conjunto de poucas regras básicas e age de forma independente e aos poucos estes vai emergindo um processo auto organizado que constrói o formigueiro. Difícil de entender? Vamos pensar no caso do Uber e de uma cooperativa de táxis. Na hora que eu solicito um táxi para a cooperativa a central (reparem no termo) vai verificar o táxi mais próximo do meu pedido e vai alocar o mesmo para mim, dentro de uma lógica hierárquica. Já no caso do Uber, o aplicativo vai mostrar os veículos próximos da minha posição e fará um leilão entre eles e o mais apto vencerá e vai me atender. Cada motorista é totalmente independente para estar ou não disponível e onde desejar, e o sistema dinamicamente se atualiza. Temos neste caso uma lógica onde não existe um comando único, mas sim uma relação hierárquica entre os veículos.

Agora imagine em sua empresa cada pacote a ser entregue se comportando de forma independente como uma agente responsável por sua própria missão logística. Vai ficar uma bagunça se continuarmos a utilizar os sistemas hierárquicos convencionais mas vai se organizar de uma forma diferentes se dermos regras claras e permitirmos a ação individual independente mas orquestrada. É o chamado efeito manada (Swarm) da natureza. Agora imagine um conjunto de drones operando desta forma.

Para aprofundar os conceitos e conhecer um pouco mais de IoT Logistics visite o site do LALT onde temos um projeto de uma caixa inteligente para operações logísticas dentro dos conceitos que discutimos aqui.