GIULLIANE FIORAVANTI
Inovação e Empreendedorismo Startup
Equipe CLUB

De acordo com o World Urbanization Prospects (Nações Unidas 2018), cerca de 55% da população mundial vive em áreas urbanas e esse percentual deve chegar a 68% até 2050. Cerca de 90% desse crescimento estará concentrado na Ásia e na África, e portanto, atender às demandas dessa população será um grande desafio.

As atividades econômicas em áreas urbanas, especialmente nas grandes cidades, desafiam os sistemas de transporte, com o aumento das viagens de pessoas e o transporte de mercadorias. O aumento do número de veículos de passageiros e de carga geram congestionamentos, poluição do ar, ruído, acidentes e outras externalidades que diminuem a qualidade de vida e limitam a competitividade econômica dessas cidades.

Além disso, o aumento nas compras online, e o desejo do consumidor por uma entrega mais rápida, resultam em um aumento no volume de frete em áreas residenciais e, portanto, atender às demandas da população é sempre um grande desafio.

Mas então, como o mundo tem se preparado para enfrentar esses desafios?

Em tempos de inovações exponenciais e busca pela sustentabilidade, alguns gigantes da  tecnologia têm apostado em iniciativas chamadas de cidade inteligentes ou “Smart Cities” e, com isso, vêm encarando de forma bastante audaciosa os inúmeros desafios que o crescimento da população urbana constitui.

A ideia da cidade inteligente, porém, não é novidade. A Disney teve a mesma ideia quando construiu o EPCOT (Experimental Prototype Community of Tomorrow) nos anos 60.

E nos últimos anos, gigantes como Toyota, Google, Facebook, e o antigo CEO da Microsoft, Bill Gates, também começaram a desenvolver suas próprias Smart Cities.

Woven City – a cidade inteligente da Toyota

Hoje vamos falar sobre a mais recente das iniciativas Smart City:   “Woven City” – Cidade do Futuro, lançada durante o Consumer Eletronics Show, em Las Vegas, em janeiro de 2020.

O projeto veio da maior montadora do Japão, a Toyota, que recentemente se autodenominou como empresa de Mobilidade.

De acordo com o presidente da Toyota Akio Toyoda, “Woven City é um protótipo de cidade onde pessoas, edifícios e veículos são conectados por meio de dados e sensores”.

O protótipo da Woven City prevê um ecossistema totalmente integrado de 700 mil metros quadrados aos pés do Monte Fuji, no Japão. Este “laboratório vivo”, aplicado em um ambiente real de cidade, composto por veículos autônomos, casas com inteligência artificial, vegetação nativa e muitas soluções de mobilidade urbana,  garantirão a conectividade e a sustentabilidade da cidade.

A cidade contará com 2.000 residentes em tempo integral, entre pesquisadores, funcionários da própria Toyota e aposentados, e promete testar tecnologias como IA (Inteligência Artificial) e IOT, além de promover a mobilidade, autonomia, conectividade, infraestrutura movida a hidrogênio e colaboração da indústria.

Conforme o projeto,  os edifícios, veículos e pessoas falarão uns com os outros por meio de todos os tipos de sensores, e as casas serão equipadas com assistentes virtuais que monitoram desde a coleta do lixo, até a entrega automática de supermercados. Para mitigar o impacto climático da cidade, os edifícios serão feitos de madeira, que tem um impacto de carbono menor do que o concreto, e todo o ecossistema será alimentado por hidrogênio.

 Entregando na Última Milha de forma inovadora

Um dos produtos inovadores da Toytota em Woven City será o Micro-Palette: um robô de entrega autônomo, com máxima manobrabilidade, e com o objetivo de ser um dispositivo multiuso para manuseio de produtos e embalagens. A ideia é que o Micro-Palette  (Figura 1) realize desde o movimento do estoque dos armazéns de Woven-city até a entrega de produtos na última-milha. Além do Micro-Pallete, outro produto de destaque é o multiuso E-Palette, que será utilizado para serviços de transporte e entrega compartilhados, além de assumir outras funções como ride-sharing, escritório móvel, lojas de varejo, etc.

Figura 1: Micro-Palette para entregas de última milha em Woven City

Figura 2: E-Palette : Veiculo multiuso para entregas de última milha, Ride-sharing, etc.


Conceito para Mobilidade urbana em formato de grid

Outro aspecto bastante interessante do projeto da cidade inteligente da Toyota diz respeito à mobilidade urbana.

Nas cidades convencionais, as ruas típicas são simultaneamente compartilhadas por veículos, pedestres e outras formas de mobilidade. O espaço viário é priorizado ao tráfego de automóveis e faixas de estacionamento, resultando em uma disponibilização desigual para outras formas de mobilidade, como bicicletas e pedestres, que acabam competindo por espaço com os veículos mais rápidos, aumentando assim o risco para acidentes.

O projeto da Woven City da Toyota rompe com o sistema viário tradicional e aposta na distribuição dos meios de mobilidade em três vias com velocidades diferentes; que formarão um padrão de grid para promover a circulação. As ruas principais serão reservadas para veículos autônomos e com emissão zero; haverá caminhos para outros sistemas de micromobilidade e transporte pessoal, como bicicletas ou scooters; e as zonas de pedestres se tornarão parques. Além disso, as ruas no perímetro do módulo de blocos trançados proporcionam acesso de veículos para serviços logísticos e de infraestrutura.

A proposta principal desse sistema de grids é tratar todos os  tipos de mobilidade de maneira igual (Figura 3).

Figura 3: Sistema modular em grids para a Mobilidade urbana – Woven City Toyota

A previsão é que a Woven City seja inaugurada em 2021, e nos faça repensar os conceitos de cidade conectada e sustentável.

Apesar de iniciativas como Woven City parecerem tão promissoras, elas também recebem diversas críticas, como por exemplo: os altos riscos referentes à Privavidade, Cibersecurity e Proteção de Dados; e até mesmo o fato de as cidades projetadas não replicarem 100 % o ambiente urbano. O pesquisador de Harvard, Ben Green, autor do livro “Smart Enough Cities”, também criticou as cidades inteligentes administradas por empresas de tecnologia, por terem uma “visão tendenciosa e equivocada” de que a tecnologia é a solução para todos os problemas da cidade.

Ainda há muito o que se fazer, antes de vermos replicados esses modelos de “Smart Cities”, mas a tecnologia certamente será fundamental para evoluirmos a cidades mais inteligentes e sustentáveis. O mais importante é não perdermos o foco de colocar o ator principal da cidade – o cidadão – no centro de tudo.