ORLANDO FONTES LIMA JÚNIOR
Professor Titular da UNICAMP

Coordenador do LALT (Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes)

No início do livro Eu, Robot de Isaac Asimov, escrito na década de 1960, você encontra as “AS TRÊS LEIS DA ROBÓTICA: 1 – Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal. 2 – Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei. 3 – Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda Leis. MANUAL DE ROBÓTICA 56ª Edição, 2058 A.D.”

Naquela época estes conflitos estavam bem distantes da realidade. Já hoje…

A logística e tecnologia sempre andaram juntas, e no caso dos robôs não é diferente. A entrada destas tecnologias no setor de logística estão levando as empresas a repensar o trabalho dentro e ao redor do armazém ou centros de distribuição quer seja porque aumentam as capacidades produtivas dos funcionários quer seja por que os substituem. Um novo paradigma vem sendo construído. O homem e a máquina juntos vêm substituindo o homem versus máquina e daí a atualidade das três “leis” da robótica do Asimov.

Vamos considerar aqui três tecnologias disruptivas que atuam nesta direção no âmbito da logística: os robôs, os VANs aéreos e os AGVs terrestres.

Diferente dos robôs industriais tradicionais que são projetados para executar uma única tarefa repetitiva, os robôs em áreas de logística devem realizar múltiplas tarefas, ter autoconsciência espacial, utilizar tecnologias inteligentes de controle de movimento e, muitas vezes, compartilhar os espaços com humanos. O maior desafio é permitir a convivência segura com humanos nas mesmas áreas de trabalho, com os chamados co-robots. Em testes, os assistentes robôs chegam a aumentar a produtividade dos funcionários em até 25%.

Os drones cujo nome técnico é VAN (Veículo aéreo não tripulado) ou UAV (unmanned aerial vehicle)  tem diversas possibilidades de aplicações na intralogística. Um dos principais usos está relacionado a segurança. Estes equipamentos podem patrulhar os espações internos e externos dos armazéns 24 horas por dia, 7 dias por semana, com custos baixos e alta confiabilidade. Eles reduzem os prazos de patrulha de horas em minutos, minimizam as janelas de vulnerabilidade e reduzem o número de pessoas envolvidas.

Os drones podem ser utilizados também na realização de inventário e no gerenciamento de ativos, pelo uso de sensores ópticos para identificar a localização do produto, verificar o inventário e alimentar esses dados de volta ao sistema de gerenciamento do depósito (WMS). Este uso aumenta a confiabilidade dos dados de localização e aumenta a produtividade da mão de obra pois reduz o tempo gasto na busca de estoque. A principal limitação é a impossibilidade de uso do GPS no interior dos armazéns. Um exemplo prático desta aplicação que contorna a limitação do GPS está sendo feito pela Infinium Robotics em vários armazéns de Singapura

Os AGV (Automated guided vehicle) terrestres que compreendem empilhadeiras, order picking robots e outros veículos autônomos é outra importante tecnologia tanto para os transportes (veja o artigo desta coluna na edição passada sobre caminhões autônomos) quanto para a intralogística. Dentro dos armazéns e centros de distribuição, esses veículos podem se dirigir de e para um destino sem controle ou supervisão dos funcionários.

Ao contrário de seus predecessores com fio, a nova geração de destes veículos autônomos usa sensores de câmera, ímãs ou lasers de navegação para direcionar seus movimentos. Muitas vezes tomam algumas decisões como agentes autônomos funcionando individualmente e ou contornando engarrafamentos do armazém ou outros estrangulamentos, mantendo sempre o fluxo de mercadorias em execução. Nas operações de picking, por exemplo, podem reduzir bastante os tempos de movimento das mercadorias e aumentar a produtividade da mão de obra pela inversão da direção dos fluxos. Em vez do funcionário ir até o estoque, é o estoque que vem ao posto de trabalho do funcionário.

Eles também permitem uma abordagem modular ao layout do depósito, permitindo rápidas reconfigurações e criando um ambiente totalmente novo. Um bom exemplo deste tipo de operação é encontrado nos centros de distribuição da Amazon no exterior. Eles também já estão entregando pizzas.

A questão que fica é a colocada por Asimov: como humanos e robôs terão uma convivência pacífica e segura nos armazéns e centros de distribuição?