SELMA ISA
Consultora CLUB sobre Logística Urbana
Equipe CLUB

Se as favelas brasileiras fossem uma empresa, seria a terceira maior do país em faturamento. E como fica a sua logística?

14 milhões de brasileiras e brasileiros moram em comunidades e a crise econômica gerada pela pandemia está empurrando uma parcela representativa dos brasileiros para uma situação financeira bem pior se comparada com o período pré-pandemia, podendo elevar o número de pessoas vivendo em comunidades.

Pode-se dizer que muitos residentes de favelas, mesmo com recursos financeiros, não possuem acesso a produtos e serviços, pois dificuldade de mobilidade devido à falta de infraestrutura e terrenos acidentados, a falta de regularização e identificação dos terrenos e problemas relacionados à segurança são apenas alguns elementos que contribuem para a realidade de falta de disponibilidade de alguns tipos de produtos e altos preços dos produtos que lá são encontrados.

De acordo com artigo apresentado no MIT Scale Latin America Conference 2021[1] e trabalho desenvolvido por pesquisadora do LALT/UNICAMP[2], em pesquisa de campo realizada na Comuna 13, Colômbia, alguns tipos de produtos são encontrados apenas fora da favela, assim como produtos com melhores preços e há poucas opções de entrega de produtos oferecidas pelos fornecedores, geralmente com motocicletas, o que deixa de fora todo tipo de produto de grandes dimensões ou peso.

Por outro lado, fornecedores encontram dificuldades para realizar entregas na região, principalmente por questões de segurança. Custo adicional de gerenciamento de risco, investimentos em dispositivos de segurança nos veículos ou adaptações, bem como menor valor por carregamento para diminuir o risco de sinistros[3] são exemplos de fatores que contribuem para o aumento do custo por entrega e consequentemente, o custo dos produtos.

A logística em favelas demanda o olhar local, soluções customizadas e desenvolvidas em conjunto com a comunidade. Como exemplo, podemos citar a Favela Brasil Express e o Traz Favela, que focam em entregas nas comunidades e desenvolvidos por pessoas que realmente entendem a realidade de suas regiões. Ou o teleférico na Comuna 13, que facilita o transporte de carga de pequeno/médio volume.

O desenvolvimento de soluções focadas nas comunidades pode ajudar a diminuir o abismo social, facilitando o acesso a produtos e serviços. No entanto, é fundamental que os preços sejam os mais baixos possíveis, possibilitando o acesso para essa grande parcela da população brasileira. E para não ficar apenas no olhar social, do ponto de vista de oportunidade de mercado, os moradores das favelas têm um potencial de consumo de R$ 160 bilhões por ano[4], valor de faturamento menor apenas do que das duas maiores empresas brasileiras. Apenas a Rocinha possui mais de 73,5 mil habitantes e potencial de consumo em torno de R$ 1 bilhão. Fornecer produtos para estas comunidades pode ser um desafio grande, mas o tamanho do mercado é enorme.

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[1] Bottom of the Pyramid Urban Logistics: Case Study of Goods Distribution in Slums,

Lima Jr., O.F., Isa, S.S., Hirakawa, A.P.R., Fioravanti, G. and Oliveira, H.C.

[2] Hirakawa, Ana Paula Ribotta, Logística urbana em favelas: estudo de casos múltiplos Campinas, SP : [s.n.], 2019.

[3] Duarte, A.L.d.C.M.Macau, F.Flores e Silva, C. and Sanches, L.M. (2019), “Last mile delivery to the bottom of the pyramid in Brazilian slums”, International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, Vol. 49 No. 5, pp. 473-491. https://doi.org/10.1108/IJPDLM-01-2018-0008

[4] Isto é Dinheiro, 24/02/21, edição 1.210