SELMA ISA
Consultora CLUB sobre Logística Urbana
Equipe CLUB

Ficar parado no trânsito é uma perda de tempo para você? Além da irritação, cansaço e frustração que os congestionamentos podem causar, faz ideia de quanto o congestionamento nas cidades é custoso para a população e para a cadeia logística?

O Brasil perde em torno de R$ 267 bilhões por ano com congestionamentos e mais de 9 milhões de brasileiros demoram mais de 1 hora no deslocamento para o trabalho. Considerando um tempo ideal de 30 minutos, o tempo perdido nos congestionamentos poderia ser convertido em renda, produtividade, lazer, estudos ou bem-estar.

E no caso das cargas que são impactadas pelo congestionamento? Uma pesquisa realizada em São Paulo (Brasil), Santiago (Chile) e Barranquilla (Colômbia) mostrou que o impacto do congestionamento nos custos de entrega nestas cidades é em média, 107%, 45% e 151%, respectivamente, quando comparados com entregas com o trânsito livre [1]. Isto significa que para fazer uma entrega na cidade de São Paulo, por exemplo, o custo é um pouco mais que o dobro se não houvesse os congestionamentos.

Mas o que fazer se não há indicativos que os níveis de congestionamento irão diminuir?

Algumas soluções de logística urbana, que a princípio podem parecer prejudiciais para a população ou para alguns setores de atividades específicos, na verdade têm por objetivo a organização do fluxo de carga de forma a minimizar os efeitos negativos causados pelo transporte urbano de mercadorias.

Um exemplo é a regulamentação de áreas de carga e descarga. O diagnóstico de vagas de carga e descarga para a distribuição urbana de mercadorias na cidade de Belo Horizonte mostrou que em média, os motoristas demoram em torno de 9,5 minutos para encontrar uma vaga [2]. Em Londres, os motoristas de carga despendem 87% do tempo total de viagem com procura de vaga de estacionamento, estacionando e efetivando o processo de entrega e/ou coleta e apenas 13% do tempo nos deslocamentos [3]. Com um bom gerenciamento das vagas destinadas à carga e descarga, pode-se aumentar a produtividade nas entregas e consequentemente reduzir o custo do frete e do produto final, além de contribuir para a fluidez do trânsito, eliminando a circulação desnecessária destes veículos em busca por vagas para estacionar.

Outro exemplo de soluções de logística urbana são as políticas com o objetivo de reduzir as emissões de veículos como a obrigatoriedade de renovação da frota para tecnologias menos poluentes ou a restrição de circulação de veículos movidos a diesel em áreas com grande concentração de poluentes no ar.

A implantação destas medidas pode parecer impositiva e injusta por parte da população ou para alguns setores econômicos, por isso o alinhamento, comunicação e participação dos stakeholders (transportadores, lojistas, embarcadores, população local e governo) no planejamento e implementação das soluções é fundamental, pois permite o aprofundamento da análise de impacto para cada um dos envolvidos e da avaliação de alternativas e facilita o processo de comunicação.

* * *

[1] Holguín-Veras et al., 2016, Methodology to quantify the impacts of congestion on logistics costs and environmental performance. VREF conference on Urban Freight 2016: Plan for the future – sharing urban space, 17 October 2016, Gothenburg.

[2] Oliveira, Leise. Diagnóstico das vagas de carga e descarga para a distribuição urbana de mercadorias: um estudo de caso em Belo Horizonte, J. Transp. Lit. vol.8 no.1 Manaus Jan. 2014

[3] Loureiro et al, PROCEDIMENTO PARA LOCALIZAÇÃO E ALOCAÇÃO DE VAGAS DE CARGA E DESCARGA EM CENTROS URBANOS XXVI ANPET, 28/10 a 01/11 de 2012, Joinville