LILIAN DA SILVA SANTOS
Unochapecó

ORLANDO FONTES LIMA JÚNIOR
Professor Titular da UNICAMP

Coordenador do LALT (Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes)

Os problemas de Logística Urbana, em particular os de distribuição física, relacionam-se diretamente as restrições espaço-temporais, como distância percorrida, tempo gasto na movimentação e janelas de horários.

A Geografia do Tempo trata exatamente de problemas deste tipo. Essa abordagem foi proposta na década de 1950 pelo geógrafo sueco Torsten Hägerstrand (1916-2004), e tem sido aplicada e aperfeiçoada em modelos diversos graças ao desenvolvimento de ferramentas tecnológicas voltadas à análises estatísticas e espaciais. Atualmente, é possível representar e analisar a movimentação de indivíduos e objetos, levando em conta restrições espaciais em dado ambiente.

Basicamente, a Geografia do Tempo concebe o espaço em uma realidade tridimensional, formada pelo tempo, distância e horários, dotado de uma capacidade limitada para acomodar eventos. Nessa realidade, o caminho percorrido por objetos é chamado de caminho espaço temporal (Fig. 1a), podendo ser representado na figura de um prisma espaço-tempo (Fig. 1b.).

Figura 1: Representações do caminho espaço temporal e prisma espaço-tempo
Fonte: Baseado em Miller (2005)

Neste sentido, a movimentação de objetos nesse ambiente fica sujeita restrições espaço temporais. Estas restrições podem de autoridade, dependência e capacidade.

Os dois primeiros tipos de restrições são oriundos do meio onde o transporte irá ocorrer.

  • Autoridade: são regras territoriais, referentes ao meio, que limitam ou impedem o acesso a determinados ambientes. Por exemplo, limites de velocidade, áreas com restrições de acesso, restrições de horários de circulação, lei de uso do solo e de edificações dentre outros;
  • Dependência: são requisitos espaciais e temporais para que o objeto do transporte (pessoas ou mercadorias) tenham interação com outrem. Por exemplo, horário de recebimento de mercadorias, que necessitam que alguém assine a entrega..

Por sua vez, restrição de capacidade diz respeito ao objeto do transporte.

  • Capacidade: são restrições de caráter biológico ou físico que dificulta ou até mesmo inviabiliza o transporte. Por exemplo, tamanho do veículo inadequado para certa via, ou exigências de temperatura para transporte de frios.

Aplicações de conceitos da Geografia do Tempo eram inviáveis antes da década de 1990 por dois motivos: em primeiro lugar, antes dessa época o processo de coleta de dados espaciais e temporais relevantes era demorado e caro; em segundo lugar, as ferramentas computacionais as complexas interações espaço temporais eram limitadas.

Mas, com o advento de novas ferramentas tecnológicas, em especial de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e de Estatística Espacial, a aplicação da Geografia de Tempo em transportes tem sido promissora. A maior parte desses trabalhos é voltado para o estudo de movimentação de pessoas. Como é o caso do trabalho de Kwan (2013), que ilustra movimentos diversos de uma mulher a partir de um código de cores (vermelho, verde e azul) em relação ao ambiente urbano, enquanto essa se movimenta em Ohio nos Estados Unidos da América – EUA. O eixo vertical representa a evolução temporal de tal movimento, enquanto que o plano horizontal representa a extensão geográfica de espaço de atividade dessa mulher (Fig. 2).

Figura 2: Caminho espaço-temporal percorrido por uma pessoa nos EUA (Kwan, 2013)

Apenas cerca de 10% e estudos de relacionados a Geografia do Tempo tratam de movimentação de cargas e de problemas de Logística Urbana. Desses, destacam-se um conjunto de modelos recentes Urban Freight Tour Models (Nuzzolo e Comi, 2014) que utilizam simulação e ferramentas analíticas de Data Science, com destaque para o modelo GoodTrip Model (2000).

Figura 3: Exemplo de uma rede logística urbana no Good Trip Model (Boerkamps e Binsbergen, 2000)

Os estudos de avaliação de acessibilidade espaço tempo estão ficando cada vez mais importantes. Vencer o last mile, realizar analises geo referenciadas e o uso de ferramentas de Data Science para tomada de decisão são as três grandes oportunidades que a Geografia do Tempo abre para a Logística Urbana.

As informações aqui apresentadas estão baseadas nos estudos de pós doutorado da primeira autora realizados sob supervisão do segundo autor no LALT Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes UNICAMP, realizado com o apoio do CNPq e pode ser lido aqui.

Referências Bibliográficas

Boerkamps, J.H.K., van Binsbergen, A.J. (2000) Bovy Modeling behavioral aspects of urban freight movement in supply chains. In Transportation Research Record, 1725. pp. 17–25.

Miller, H. J. (2005) A measurement theory for time geography. Geographical Analysis 37 (1), p. 17–45.

Nuzzolo, A., Comi, A., (2014) Urban freight demand forecasting: A mixed quantity/delivery/vehicle-based model. Transportation Research Part E 65 (2014) 84–98.